O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde ( OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, decidiu declarar que o avanço da Mpox constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), o nível mais alto de alerta da organização.
A decisão seguiu a recomendação do Comitê de Emergência convocado pelo diretor, que se reuniu pela primeira vez nesta manhã.
— Eu decidi seguir a recomendação do comitê e declarar emergência (…) A detecção de um novo clado de Mpox na República Democrática do Congo (RDC) e o potencial de maior disseminação na África. É um grande alerta — disse o diretor-geral em coletiva de imprensa nesta tarde de quarta-feira (14).
Embora os casos globais de Mpox tenham caído depois do surto inédito há dois anos, a doença continuou a circular, especialmente nos lugares onde já era endêmica, como a República Democrática do Congo (RDC).
No país, as infecções têm crescido de forma alarmante e chegaram neste ano a mais de 14 mil infectados e 524 mortos, impulsionados por uma nova linhagem do vírus.
Um dos temores é que a cepa que tem se disseminado não é a mesma do surto de 2022. O vírus Mpox é dividido em duas linhagens, chamadas de Clado 1 e Clado 2.
A 2, que é mais branda, foi a responsável pela propagação global em 2022, o que foi associado a ela ter adquirido a capacidade de se transmitir por meio de relações sexuais.
Porém, no fim do ano passado, cientistas identificaram uma nova versão do Clado 1, batizada de Clado 1b, que também passou a ser disseminada pelo contato sexual e é a responsável pela alta de casos na RDC.
O número de infecções no país em seis meses já é igual ao registrado em todo o ano passado, destacou Tedros Ahanom, e o vírus se espalhou para províncias anteriormente não afetadas.
Além disso, 90 casos foram relatados em quatro países vizinhos que não tinham registros de Mpox: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, todos pela nova cepa.
Por isso, na última semana, o diretor-geral da OMS anunciou que havia convocado o Comitê de Emergência para avaliar a situação e orientá-lo sobre a necessidade de instaurar, ou não, o nível mais alto de alerta da organização.
— O surgimento no ano passado e a rápida disseminação do clado 1b na RDC, que parece estar se espalhando principalmente por meio de redes sexuais, e sua detecção em países vizinhos à RDC são especialmente preocupantes e um dos principais motivos da minha decisão de convocar este Comitê de Emergência — disse Tedros na abertura da reunião, que aconteceu de forma fechada e virtual nesta quarta-feira (14), às 7h (horário de Brasília).
Além disso, o Clado 2 da doença, responsável pela disseminação global inédita em 2022, continua a se disseminar nos países, ainda que em menor proporção. No Brasil, por exemplo, houve 709 casos confirmados ou prováveis de Mpox até agora em 2024, segundo o Ministério da Saúde.
— Não estamos lidando com um surto de um clado – estamos lidando com vários surtos de diferentes clados em diferentes países, com diferentes modos de transmissão e diferentes níveis de risco — destacou nesta manhã.
Ao todo, 16 especialistas participaram do comitê como membros ou conselheiros. Entre eles, dois brasileiros: a coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clarissa Damaso, e o pesquisador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cidacs/Fiocruz) Eduardo Hage Carmo.
Essa é a 8ª vez que a OMS instaura o mais alto nível de alerta – e a segunda relacionada à Mpox. Confira abaixo as outras 7 emergências de saúde já decretadas pela organização.
Mpox – 2022 a 2023
A última emergência a ter sido decretada e a ter chegado ao fim foi a relacionada também à Mpox. A doença já era endêmica em alguns países africanos, como na RDC, mas se disseminou pela primeira vez globalmente e de forma inédita por meio de relações sexuais.
A primeira reunião do Comitê de Emergência foi em junho de 2022, e um mês depois o diretor-geral da OMS decidiu instaurar a ESPII. Naquele ano, a Mpox atingiu todos os continentes habitados, provocando cerca de 85 mil casos e pouco mais de 120 óbitos. O Brasil foi o segundo país mais afetado.
Com a queda de novos casos, em 11 de maio de 2023, quase um ano depois, a OMS decidiu encerrar a emergência, ainda que o vírus não tenha deixado de circular em muitas localidades.
Covid-19 – 2020 a 2023
A pandemia da Covid-19 levou a OMS a instaurar emergência ainda no dia 30 de janeiro de 2020. A crise sanitária, uma das piores da História da humanidade, foi provocada por um novo coronavírus, descoberto em 2019 na China.
Até agora, foram registradas mais de 7 milhões de mortes e 700 milhões de infectados. Porém, com a vacinação, que envolveu a maior campanha já realizada no planeta, os casos e, principalmente, a gravidade da doença diminuíram.
Também em 2023, no dia 5 de maio, a OMS deu fim ao cenário de emergência.
Ebola – 2019 a 2020 e 2014 a 2016
Já houve duas emergências pelo vírus Ebola. A última foi decretada em julho de 2019 devido a um surto na República Democrática do Congo (RDC) e chegou ao fim em junho do ano seguinte.
A anterior foi o surto de maior magnitude que ocorreu na África Ocidental, instaurada entre agosto de 2014 e março de 2016. Ao longo de 28 meses, foram registrados 28.652 casos e 11.325 mortes, com temores de que a doença se espalharia para outros continentes e países.
Zika – 2016
Em fevereiro de 2016, em meio ao aumento de distúrbios neurológicos e malformações fetais devido à infecção de gestantes pelo vírus da Zika, transmitido pelo Aedes aegypti, o diretor-geral da OMS decretou um cenário de ESPII. O status chegou ao fim em novembro do mesmo ano.
Gripe suína – 2009 a 2010
Alguns anos antes, em outro cenário que envolveu fortemente o Brasil, a OMS instaurou emergência de saúde pública devido aos casos de gripe suína H1N1. A doença recebeu esse nome por ser uma nova versão do Influenza que infectava pessoas, porcos e aves.
O surto deixou cerca de 284 mil mortos, e a cepa H1N1 se tornou uma das que causam a gripe sazonal hoje. A ESPII foi decretada pela OMS em abril de 2009 e durou até agosto de 2010.
Poliovírus – 2014 até agora
A pólio é uma doença viral antiga que causa paralisia infantil e foi erradicada em muitos países, como no Brasil, graças à vacinação. No entanto, frente a ainda transmissão internacional do patógeno, a OMS decidiu declarar uma ESPII em maio de 2014, que continua em vigor até hoje. A medida é parte dos esforços para erradicar a doença do planeta. (Agência O Globo)
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