A decisão unânime da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira (26), que tornou réus o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete pessoas por tentativa de golpe de Estado, deve impactar e repercutir em todos os espectros da política brasileira.
Com a aceitação da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), Bolsonaro e os demais denunciados responderão a um processo penal que poderá resultar em condenações e prisões.
Cientistas políticos consultados pela Folha de Pernambuco avaliaram os desdobramentos deste julgamento para os campos da direita e da esquerda, a pouco mais de um ano para as eleições presidenciais, em pleito que também renovará o Senado - visto pela oposição como um contraponto institucional ao atual protagonismo político do ministro Alexandre de Moraes e do STF.
Polarização
“Em um campo em que já existe uma grande polarização enraizada - há processos políticos muito arraigados - é preciso que algum fato político tenha uma força muito grande para poder causar algum tipo de desequilíbrio ou de mudança de perspectiva dos cenários e das conjunturas”, comenta a cientista política Priscila Lapa. “No caso específico desse julgamento de uma das maiores lideranças dentro desse tabuleiro político tão polarizado, responder e se torna réu no processo, junto com um conjunto de integrantes que não necessariamente fazem parte do grupo político dele, mas que são atores e de outras instituições que tem muito a ver com os pilares do bolsonarismo, isso é um fato com força política suficiente para provocar mudanças no cenário e impactar a conjuntura da eleição”, avalia Priscila.
Já o cientista político Rudá Ricci avalia maior repercussão no campo bolsonarista. “O impacto maior nesse momento é no campo do bolsonarismo, não exatamente na direita, mas na extrema direita. Porque a expectativa que se tem entre nós analistas políticos é que, a partir dele se transformar réu e ser acatada a denúncia pelo STF, tanto o próprio Jair Bolsonaro como o núcleo mais próximo, inclusive de governadores, nós imaginamos uma reação muito forte do ponto de vista público”.
“Da mesma forma, no campo político da esquerda, o que a gente tem observado, é a militância mais aguerrida ao anti-Bolsonaro. Existe até um clima de comemoração desse revés, como se fosse um revés político na mesma proporção daquilo que aconteceu no passado com Lula, mas o que eu observo é que do outro lado existe uma certa cautela - o próprio Lula tem sido muito discreto nisso tudo - porque, afinal de contas, o principal fiel da balança desse processo todo que é o STF e ele tem provocado também percepções controversas”, pontuou Priscila.
“Bolsonaro, já convocou mais um ato público para abril. Ações de massa, de excitação da base eleitoral e social são a única maneira do bolsonarismo criar algum tipo de intimidação ao STF. Criar uma onda para que se consiga, na eleição do ano que vem, coesionar o eleitorado bolsonarista para eleger o máximo de nomes possíveis para o Congresso Nacional, sobretudo para o Senado”, avalia Rudá.
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