Penas exemplares: 78 anos de prisão, 9 meses de reclusão e 30 de multa e 59 anos de prisão, 8 meses de reclusão e 10 dias de multa para Lessa e Queiroz respectivamente
O Conselho de Sentença do 4º Tribunal do Juri do Rio de Janeiro condenou nesta quinta-feira os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes. Réus confessos, eles foram sentenciados após 2.423 dias do crime.
Após seis anos e meio das execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram julgados.
Lessa, que atirou contra a vereadora e seu motorista, foi condenado a 78 anos de prisão, 9 meses de reclusão e 30 dias de multa. Já Queiroz, que dirigiu o veículo no dia do crime, foi condenado a 59 anos de prisão, 8 meses de reclusão e 10 dias de multa. Eles foram condenados por todos os crimes dos quais foram acusados.
Além disso, os dois foram condenados a pagar uma pensão mensal para o filho de Anderson Gomes, Arthur, de 7 anos, até ele completar 24 anos. Eles também deverão pagar, juntos, R$ 706.000 de indenização por dano moral a cada uma das vítimas: Arthur, Ágatha [viúva de Anderson], Luyara [filha de Marielle], Mônica [viúva de Marielle] e Marinete [mãe de Marielle]. A prisão preventiva de ambos foi mantida e eles arcarão com as custas do processo, sem o direito de recorrer a liberdade.
A sessão, promovida no 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro, começou às 10h30 da quarta-feira, 30, e seguiu até 23h50. A ideia era que o julgamento fosse finalizado no mesmo dia, mas, após cerca de 13 horas de duração, a sessão foi suspensa e retomada nesta manhã.
No total, foram mais de 18 horas de julgamento. Lessa e Queiroz foram presos em 2019, um ano após o crime, e participaram do julgamento por videoconferência da cadeia onde estão presos. Lessa está no Complexo Penitenciário de Tremembé, no interior de São Paulo, e Queiroz, no Complexo da Papuda, em Brasília.
Como foi o julgamento?
Na manhã de quarta-feira, dezenas de pessoas começaram a se reunir em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com lenços amarelos, cartazes e girassóis, símbolo da campanha de Marielle para vereadora do Rio de Janeiro durante a eleição municipal de 2016.
"Marielle, justiça", "Anderson, justiça", e "Seremos resistência", gritaram os participantes durante o ato. Eles também questionaram: "Quantos mais têm que morrer para essa guerra acabar?".
O protesto continuou até a viúva de Anderson, Agata Arnaus, os pais e a filha de Marielle, e sua irmã, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, entrarem no tribunal.
O julgamento começou com o depoimento das testemunhas de acusação. A principal foi Fernanda Chaves, então assessora da parlamentar, que estava no carro no momento do assassinato. Ela foi a única sobrevivente do atentado.
Durante o depoimento, Fernanda contou em detalhes como foi o momento do ataque e o que fez para se proteger.
“A Marielle estava imóvel. Senti o braço dela por cima de mim, o peso do corpo dela sobre mim. Eu estava sem cinto, por isso consegui me abaixar atrás do banco. Eu percebi que o carro estava em movimento, eu via um pouco de luz entrando pelas janelas, que estavam estouradas, e então fiz o carro parar", relembrou.
Além dela, falaram, na ordem:
• Marinete da Silva, mãe de Marielle
• Monica Benício, viúva de Marielle
• Ágatha Arnaus Reis, viúva de Anderson
• Carlos Alberto Paúra Júnior, agente da Polícia Civil do Rio
• Luismar Cortelettili, agente da Polícia Civil do Rio
• Também estava cotada para depor a perita criminal Carolina Rodrigues Linhares, mas ela não compareceu ao júri popular. Por isso, foi exibido um vídeo com a oitiva da testemunha durante a fase de investigação inicial do caso.
Em seguida, ela passou a palavra para o promotor Fábio Vieira, que por sua vez disse que o crime foi motivado por 'ideologia'.
"Esse processo mostra, a gente vê o que é a potência dessa mulher. Ela não é essa beleza, essa potência, porque escolheu a esquerda. Porque se ela tivesse escolhido a direita, ela também seria uma beleza. É uma mulher que acredita. [...] Independente da ideologia, eu tenho que fazer o certo. É isso é que é Marielle, o Anderson e a Fernanda fizeram. Foram pessoas que escolheram fazer o certo", em uma tentativa de desassociar a parlamentar da esquerda.
Depois, ele questionou arrependimento de Queiroz e Lessa, durante o interrogatório que ocorreu na quarta. “Que arrependimento é esse que se pede algo em troca? Os senhores já pediram arrependimento para alguém, falando, 'eu quero o seu perdão se me der algo em troca?', porque é isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Foi isso que vieram fazer”, declarou.
Vieira ressaltou que, até fechar a delação premiada, ambos diziam que não conheciam Marielle e Anderson ou até que não estavam no carro usado para a prática do crime no dia dos fatos.
O Ministério Público também abriu as pesquisas feitas pelo ex-policial antes do assassinato. Os documentos dão conta que ele buscou rastreador de veículos, 'acessórios' para uma submetralhadora HK MP5, a mesma usada no crime, como silenciador e adaptador.
O ex-PM ainda buscou como 'desincronizar a conta de e-mail' de seu navegador para tentar apagar rastro da pesquisa.
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