O sinal verde dado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), na semana passada, autorizando por unanimidade o plantio, cultivo e comercialização do cânhamo industrial pode fazer de Petrolina um município pioneiro para beneficiar pacientes assistidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O cânhamo é uma variedade de Cannabis Sativa L – a maconha – com altos teores de Canabidiol e baixos teores de Tetrahidrocanabinol (THC). Ou seja: não tem propriedades alucinógenas e pode ser destinado tanto na área médica (para o tratamento de doenças como epilepsia, Alzheimer, autismo entre outras), como na área industrial (para a produção de papel, tecidos, concreto ou crédito de carbono).
Quem está à frente dessa luta pelo uso da cannabis para fins medicinais é a farmacêutica e CEO da DNA Soluções em Biotecnologia, Dra.Kiara Carolina Cardoso. Isso porque a decisão do STJ permitirá que sua empresa – quem tem sede em Curitiba, mas já está com filial em Petrolina – possa iniciar o plantio do cânhamo.
Debruçando-se há quase dez anos sobre o tema, Dra.Kiara transformou-se numa referência relacionada ao avanço da biotecnologia aplicada à cannabis medicinal. Esse esforço partiu de um drama pessoal, após ter sido diagnosticada com um tumor cístico cerebral em 2018. Seu tratamento foi à base do cânhamo. Ela, inclusive, foi a primeira paciente no Paraná a ser autorizada pela justiça a cultivar a planta para este fim. “Como sou farmacêutica, tenho mestrado, doutorado e estou agora fazendo pós-doutorado, na área de produção de medicamentos e também na área de plantas, eu pude pesquisar a cannabis e o cânhamo. A partir daí surgiu a ideia de entrar com o processo que resultou na aprovação (pelo STJ)”, explicou.
Só benefícios
Dra.Kiara só vê benefícios a partir da decisão histórica da justiça sobre a cannabis medicinal. Primeiro, porque quando a produção do cânhamo for iniciada no país – o que deve acontecer num prazo de seis meses – os custos para o governo irão diminuir sensivelmente, já que o medicamento será 100% nacional. Atualmente todos os medicamentos naturais com canabidiol em sua essência usam matéria-prima importada. Isso aumenta os custos para os pacientes e ainda geram receita aos países exportadores dessa matéria-prima. Agora, essa realidade deve mudar brevemente.
Além disso, ressalta a especialista, a demanda do SUS tende a ser agilizada quando a produção da cannabis para fins medicinais começar no país.
Nesse contexto, ela acredita que Petrolina tem tudo para ser uma cidade pioneira no tratamento contra doenças utilizando o cânhamo. “Por eu estar no Estado de Pernambuco, morando na cidade de Petrolina, acredito que nós temos o melhor bioma para produzir o cânhamo medicinal. A gente entende que o Estado tem uma oportunidade muito grande de se tornar referência na produção do medicamento”, concluiu.
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